sexta-feira, 24 de abril de 2009

Luanda. A chegada!

 do dia, mas noinício concreto da minha nova vida!29.03.09

Dormi poucas horas no vôo. A combinação entre os cutucões das "aerovelhas" e a ansiedade, pouco me permitiram pregar os olhos. Felizmente, o grupo era grande, então, uma conversa aqui, outra ali, livro, música... e finalmente pousei em Luanda.

Poderia me deter a falar sobre a imigração, a fila e etc... mas sinceramente, ainda não conheci sequer um país, por mais civilizado que seja, que nos dispense de uma longa fila na entrada. Quando chegou na minha vez, nada me foi perguntado. Meu passaporte foi carimbado e liberado.

No desembarque, novo staff da Odebrecht a esperar. Na saída meu líder me aguardava para me levar para casa. No caminho para casa o Vitor já começou a me atualizar sobre o estágio do nosso contrato. Não pude estar atenta aos detalhes de Luanda. 

Vitor me propôs que eu me esforçasse para não dormir durante o dia, e ir dormir cedo para começar a ajustar o fuso.

Deixei as malas, tomei um banho e fomos para um almoço na casa de um colega de trabalho. Na chegada duas pessoas conhecidas, vários baianos, menu caruru e música de fundo, o Axé! Foi como cruzar o atlântico e novamente chegar à Bahia.

Passada a excitação inicial da chegada, foi o sono quem pousou com força. Tentei resistir, em vão.  Por fim dormi. E acordei no final do dia pronta a terminar de fato com aquele ciclo e de fato iniciar uma nova vida!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A história e o contexto

29.03.09

Angola foi descoberta 18 anos antes de nós. Teve o início da sua colonização, porém, 29 anos depois do Brasil, em 1559. Enquanto a nossa exploração foi voltada à produção da cana-de-açúcar e do ouro, em Angola foi focada na exploração da mão-de-obra escrava. Assim como no Brasil a abolição aconteceu inicialmente somente de direito, de fato só viria a acontecer muito anos depois. 

Angola foi colônia portuguesa até o ano de 1975. Ou seja, se Miloca nascesse aqui, teria nascido no período colonial (rsrsrsrs!), e Ian no ano da independência! Nos 133 anos de diferença entre a independência brasileira e a angolana, tivemos no Brasil a imigração européia com grande influência cultural e de produção, nos libertando de alguns "padrões" portugueses, além da modernização e o surgimento da indústria, com especial destaque à automobilística, em 1920. Em Angola este tempo nunca chegou. Angola praticamente importa tudo o que consome, e tem na venda do petróleo e dos diamantes a sua principal fonte de riqueza e crescimento.

Além da independência tardia, o país foi vítima de uma guerra civil que se iniciou quinze dias após a independência. A guerra envolveu alguns movimentos libertadores, os menores desapareceram logo no início, deixando o embate maior entre a UNITA e o MPLA. A guerra gerou muita violência, destruição e miséria. Em 1995 foi feita uma eleição para se por fim a guerra. O MPLA venceu com 85% dos votos, porém a UNITA, no dia seguinte, reiniciou as batalhas, principalmente no interior do país. A guerra impulsionou a migração de quase um terço da população angolana para a sua capital, Luanda. As pessoas fugiam pelo medo e pela fome. Os últimos anos de guerra foram os mais violentos, e fez de Angola o país com maior número de mutilados de guerra.

Imaginem então a linha do tempo neste país. Colonização exploratória por  493 anos, seguidos de 27 anos de guerra civil e destruição. Angola tem então, apenas sete anos de paz e de VIDA. Sete anos de reconstrução, sete anos efetivos de nação unificada (se é que dá para considerá-la assim)! Imaginem que uma criança de dez anos já é capaz de te dar relatos sobre a guerra.

Ainda hoje, a expectativa de vida em Angola é 49 anos para as mulheres e 48 anos para os homens. Apesar dos dados de analfabetismo não serem alarmantes, se incluem aí os alfabetizados funcionais, que apenas assinam o seu nome.

Por ser o segundo maior produtor de petróleo da África e quarto maior em diamantes do mundo, Angola é o segundo país que mais cresce no globo. Há alguns anos permanece com crescimento anual de 20%.

Hoje vejo Angola como um bebê que nasceu prematuro, que precisa sobreviver sem estar totalmente formado, mas cujo metabolismo e crescimento são maiores que o de um bebê normal. E desejo que um dia, ainda na infância, este velho/novo país se encontre em condições iguais e plenas de vida para a sua população.

O embarque para Angola e o "bodão"

29.03.09

Antes de mais nada, é preciso entender que o embarque para Angola é uma programação para um dia inteiro. Não funciona como uma viagem internacional corriqueira, onde basta se organizar para chegar com duas horas de antecedência no aeroporto e embarcar. Passaporte, localizador e pronto .

Pra começar, tem gente que vai até o Rio e, de última hora, no dia anterior ao embarque, recebe a notícia que não vai viajar, e precisa aguardar sem previsão uma nova data. Alguns aguardam por uma semana, outros mais.

Mas falando dos agraciados, que tiveram suas viagens confirmadas, e nos quais eu me incluo, fomos para o aeroporto com cinco horas de antecedência. Se minha avó Helena e Miloca estivessem presentes, ficariam orgulhosas de mim! Um staff digno da Odebrecht nos aguardava para fazer o check in. Malas protegidas, check in feito, atentos ao display, o vôo aparecia confirmado e no horário. 

Não demorou muito para aprendermos que se tratando da TAAG, isto não significava que iríamos embarcar sem atraso. O grande bodão, apelido dado ao avião da TAAG, pousa e taxia até parar na nossa frente. E lá fica.

Para os mais românticos, o apelido de bodão é oriundo da imagem de uma Palanca Negra, espécie endêmica angolana, plotada na rabeta do avião. Para os mais sarcásticos, vem pela semelhança do cheiro exalado pelo bode.

Avião na pista, seguimos a esperar. Visita ao free shopping, à lanchonete e à livraria. Qualquer coisa que ajudasse a fazer o tempo passar mais rápido.

Lá vem ela, a nossa tripulação se aproxima. O referido grupo de língua ácida que justificou pelo mau cheiro o apelido de bodão, deve ter sido também o responsável pela denominação da equipe de bordo de "aerovelhas". Da minha parte, sem dúvida nenhuma, após embarcar, identifiquei outra característica como a mais marcante. A simpatia. Ou melhor, a ausência completa dela!

Já a bordo do bodão, discordo da segunda explicação para o seu apelido. Nem um cheiro expressivo. A aeronave é velha, mas não assusta, assim como as aeromoças. Antes mesmo da aeronave decolar eu já tinha sido chamada atenção, uns doces!

Uma hora depois da decolagem, após duas horas e meia de atraso, fui acordada por elas com um forte "cutucão". Abri os olhos assustada e a ouvi dizer "queres carne ou peixe?", optei pela carne. Quando abri a marmitinha me deparei com um frango. Pensei, ela deve ter querido dizer carne de frango, mas se assim fosse também diria carne de peixe. Preferi não entender. Mais tarde, acordo com um papel sendo lançado sobre mim, a guia de imigração. Depois disso não consegui mais dormir. As, então, seis horas e meia restantes de vôo passaram arrastadas.

Fui chamada atenção pelo menos mais umas duas vezes durante a viagem. Uma delas ainda me pego tentando entender o porque. 

Depois da viagem, se me indagassem sobre a razão do apelido vulgar, eu diria: é pelo fato de recebermos cabeçada sem esperar, e ouvirmos "béééééé" sem poder entender...

domingo, 12 de abril de 2009

Voltando ao começo

28.03.09

Primeira parada. O avião pousa na cidade maravilhosa. Volto ao começo de tudo. Estou renascendo?

Após o desembarque sigo descoordenada empurrando os meus 112kg de bagagem, que se equilibram sobre 02 carrinhos. Um rapaz atencioso se oferece a me ajudar. No ponto de taxi conveniado com a empresa, 20 homens enfileirados aguardam os carros. Todos com uma malinha de rodinhas de tamanho médio e uma mochila nas costas. Pareciam padronizados, como os tripulantes das companhias aéreas.

Por um momento me constrangi com os meus dois carrinhos, mas logo pensei que deveriam ser funcionários expatriados voltando de suas folgas. Suposição esta logo descartada. Na reunião para a assinatura dos novos contratos, lá estavam eles, os homens das malinhas pequenas. 

Olho surpresa e decidida a me desfazer de pelo menos uma das malas. Mas no jantar, após a reunião, todos já integrados, piadas à parte, os meus mais novos colegas me tranquilizam e se oferecem a levar parte das malas.

À noite, o samba aquece, os arcos da Lapa integram, e a gente se diverte. Todos ansiosos para cruzar o atlântico e conhecer o país chamado Angola.




quinta-feira, 9 de abril de 2009

A mesma história, um novo capítulo...

28.03.09

Inicia-se um novo capítulo, a história segue a sua narrativa. Mais uma vez, um novo cenário. Agora, novos personagens e figurinistas comporão o enredo. De comum e rotineiro, apenas eu, protagonizando, escrevendo e dirigindo mas uma parte desta "biografia".

Aqui estou, ás cinco da manhã, fechando as malas. Malas que pesam, mas que vão vazias, malas que carregam o necessário, e não o importante, malas que levam o que nelas cabem, o resto, é no meu coração que vão carregados.

Desço com as malas, as acomodo no carro. Volto em casa uma vez mais. Antes de sair me despeço de uma mudança recente, de mais uma conquista alcançada, do meu ninho, dos meus filhos, de uma parte da minha vida.

Fecho a porta, e com ela minha vida se abre para um novo momento. A minha vida em outro continente...